domingo, 26 de abril de 2015

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Destroços de silêncio

Oiço o silêncio de mim própria a ressoar cá dentro e, no desespero por um segundo de paz e luz, abafo-o com esta esperança em que já nem quero crer. Sigo a linha contínua de destroços contando-os e sei do tempo de cura de cada um deles. Menos deste. Sou tão má a aceitar as minhas perdas. Volto-as contra mim como canhões e disparo sem perdão. Assumo a culpa de tudo. Mesmo quando sei que não a tenho na totalidade. E fica mais difícil ver o sentido, o ensinamento. A solidão é o pior presente envenenado que se pode ter. Sinto-me enclausurada numa sala sem vida onde a única coisa que se afirma é a minha lamentação. Estou cansada de ouvir o teu nome. E estou cansada das tréguas falsas que dou a mim mesma na tentativa de ver o melhor da situação. Precisava tanto que, apenas pelo tempo que te é permitido, deixasses cair essa redoma em que te impuseste para afastar o meu sofrimento, e me falasses do silêncio que também ouves dentro de ti. Só para não sentir que aqui estou só.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Um sapato que já não serve


Num sítio onde tantas vezes vou buscar inspiração e reflexão, li esta frase da querida Sofia:
"Insistir numa coisa (ou num alguém) que não bate certo é como querer calçar uns sapatos que já não servem: só (nos) magoa."

E fiquei a pensar o quanto esta minha força quase auto-masoquista de acreditar nas pessoas e nas segundas oportunidades me obriga a ter um armário cheio de sapatos que me magoam. As pessoas dificilmente mudam. E quando mudam é para pior porque isso é tão mais fácil. Ser melhor dá imenso trabalho. Acima de tudo, ser melhor obriga-nos a admitir que estamos a fazer algo mal e isso é coisa dos fortes, dos masoquistas, ou dos que pensam demais. Ser melhor é avançar e isso fica muito longe da nossa zona de conforto.

Mas admitamos. Eu vou ter sempre sapatos que não vou conseguir calçar mas mesmo assim achar que são os mais especiais do meu armário. E vou sempre acreditar em príncipes encantados e amores eternos. E em cada linha de um poema romântico. E vou saber recitar meia dúzia de músicas lamechas que já ninguém ouve. Por mais que me partam o coração.

domingo, 12 de abril de 2015

Dos arrependimentos


Não consigo conceber o momento em que, no final da vida, olhando para trás, tenha de avaliar o meu próprio percurso com a nitidez que quem já não tem nada a perder. Mais do que o medo da morte tenho medo do arrependimento. Tenho esta irrevogável certeza que o que não ficou feito pesa mais dolorosamente do que a despedida do que se teve coragem para fazer. Que o arrependimento de ter cedido tantas vezes ao medo (e muitas delas conscientemente) é o nosso elo de desconexão com a vida. Ou com o que ela devia ser. Ninguém se arrependerá de não ter passado mais tempo a passar a roupa a ferro. Ninguém dirá que se arrepende de não ter trabalhado mais. Só o que realmente importa nos deixa arrependimento. Eu sei que vou lamentar não ter olhado mais vezes mais o céu estrelado. Eu sei que vou lamentar não ter perdoado mais. E viajado mais. E dito mais vezes "gosto de ti" a quem me preenche o coração. Vou lamentar não ter tido mais conversas pela noite fora, Ou de não ter suplicado por mais abraços. Vai pesar a coragem que não tive. Vou lamentar não ter lutado mais pelo que não me deixa dormir à noite.
E eu sei ... Cada momento é uma oportunidade para não me arrepender.