quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Palavras bonitas


"Dizia que queria “viver, viver muito, conhecer todos os lugares, explorar”. Seu dia a dia era um vai e vem de planos, ideias de viagens e pensamentos que só sossegavam quando pairavam no futuro. O presente, respondia, “é só um step para o que vai acontecer lá na frente”. Daqui a um mês, um ano, dez, vai saber. Mas era lá que estava toda felicidade que merecia, certeza.

Mas, ora bolas, os anos passavam e cadê aquele momento glorioso que nunca chegava? Os sonhos se esfarelavam pelas mãos como concreto que não dá liga. A vida adulta também não facilitou: seguiu todos os caminhos esperados e, quando percebeu, estava dentro de um caminho engarrafadíssimo. Faculdade, casamento, filhos, trabalho – tudo isso consumia tanto tempo! Onde estavam as viagens e lugares que iam lhe fazer feliz de verdade? A cada passo que dava pra frente, a felicidade real recuava dois.

E a vida diária? Nossa, que horror. Os dias se arrastavam como se pedras estivessem amarradas em todos os membros. Definitivamente, não tinha como se satisfazer com aquilo. Quem em sã consciência vive assim e ainda consegue sorrir, ainda consegue se motivar para ir em frente? Ele que não. Pois era em outro lugar que descansava toda sua paz, seu futuro bem estar com gaivotas e coco na praia. Ou num canto escondido na montanha. Ou uma cabana na floresta. Vai saber. Mas não era ali. (...)"

Texto completo a ler na Revista Carne Seca

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Vaso partido


Sou um vaso desfeito em mil pedaços. Espalhados à minha volta sem propósito, dispersos do que já foram e sem um projecto de como se manterem juntos. Pedaços solitários que já não sabem o seu lugar. Olho para todas estas rachas, e para os bocados que de mim saltaram e não tenho forma em mim de os voltar a colar. Sinto que me faltam peças e, mesmo que reconstrua o vaso, ele nunca será igual. Nunca ficará perfeito nem completo. Um vaso partido não serve para nada: não aguenta a água, nem as flores.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Sorrisos e Lágrimas

Sempre fui assim, pequena em mim mesma. Mais julgadora de mim própria do que amiga do que sou. Numa busca de perfeição constante, exigência no máximo e culpa derrotista. Sempre soube que, sozinha, sou menos do que quero ser. Construir o abrigo em ti foi a minha cura perfeita. Fez-me ser forte, porque ao pensar em ti, tudo me parecia mais facilitado. Todas as coisas difíceis tinham como objectivo ser mais um passo à frente para nós. E isso fazia-me continuar, sempre, sem olhar para trás. O teu abrigo fez superar-me a cada passo. Mesmo quando estava sozinha o que me fazia continuar era saber que tinha sempre sítio para onde voltar, o teu abraço. Agia como uma extensão da tua força por não ter em mim, essa capacidade de a criar. És bom a acalmar-me, a criar sorrisos. E, por isso, sempre me deitei na tua coragem e nunca aprendi a desenhá-la de mim para mim. Quando o jogo reverteu e foste tu a precisar de um sorriso eu não te soube fazer sorrir. Eu não sei conjugar o verbo sorrir sem ti. Caí no poço. Olhei para dentro de mim à procura de respostas, à procura de um manual de instruções de como criar felicidade. E percebi que sempre tinhas sido tu a fazê-lo por mim, eu nunca aprendi a fazê-lo sozinha. Quando mais precisavas que te alegrasse e levantasse do teu poço eu estava subterrada no meu poço de tristeza. A sentir-me só, vazia, olhar impávido para um caminho que nunca aprendi a percorrer. Sem conseguir perceber que quem precisava de mim agora eras tu.