domingo, 19 de outubro de 2014

Amor-próprio

Photo by Mouldy

A proporção com que gostamos de nós, é inversa aquela com que nos deixamos afectar pelos demais. Deixamos que os outros nos espezinhem na mesma medida em que nos auto-julgamos, tão injustamente. Só temos a certeza de um coração partido quando já não restam senão migalhas do que costumávamos ser. Não é fácil gostar de nós e muito menos reconhecer que os outros, seguindo as nossas pisadas, vão caminhando e estalando o nosso amor-próprio. Não é fácil abrir o coração e muito menos fazer dele uma zona de passagem onde os outros chegam e partem com a mesma velocidade de quem se atrasa para o comboio. Esta coisa tão complexa, do eu, do nós, dos outros ... Esta coisa dolorosa que é apaixonar-mo-nos pelas pessoas e vê-las partir. Esta coisa tão disparatada que é gostarmos tão pouco de nós mesmos e perdoarmos continuamente o que não tem perdão. Deixar de gostar de nós é como deixar um barco largado na areia.

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